
"A gente se sente sozinho pelo menos um milhão de vezes na vida. Como na hora do parabéns, em que todo mundo canta aquela musiquinha de sempre, com uma empolgação, por vezes, forçada, e você fica feito bobo no meio da roda, morrendo de vergonha, torcendo pra acabar logo. Essa coisa de aniversário é esquisita. Espera-se por esse dia todo ano, mas depois que ele passa não muda muita coisa, de fato; você apenas se torna uma pessoa alguns presentes mais rica - isto quando se torna, claro. Vai dizer que não é algo mecânico? Que você realmente acredita que todas aquelas pessoas batendo palmas freneticamente te desejam muitas felicidades? Nada, só estão interessadas no seu bolo com calda de chocolate derretente, ou em colocar o máximo de brigadeiros no bolso, pra comer mais tarde, sozinho. No máximo, aquele cara que gosta de você desde a segunda série ou os seus pais - que sabem que, se nem eles gostarem de você, quem é que vai gostar? E aí a gente se sente sozinho.
A solidão vem quando ninguém atende o telefone do outro lado. Ou quando atende, pra dizer que não vai poder te ver. E vem quando você não tem ninguém pra dividir a cereja que vem em cima do sorvete. Ou quando nem cereja vem no seu sorvete. Ela vem sozinha, porque solidão que é solidão nunca tá acompanhada.
Vem quando você assiste um filme abraçante e, quando se dá conta, tá com as mãos nas próprias costas. Quando você se pega conversando sozinho debaixo do chuveiro ou literalmente falando com as paredes do quarto. Ou num momento bonito, em que você chora por não ter com quem dividi-lo.
Mas você também sorri. Sorri duas vezes mais milhões de vezes na vida do que se sente sozinho. Por vezes, nem se precisa de um motivo suficientemente bom; você sorri porque fica bem melhor assim.
Sorri quando você atende o telefone e alguém te chama pra tomar um sorvete numa segunda-feira à tarde. Ou quando toca uma música boa no rádio, e você dança sem perceber. Quando ganha uma flor, um bombom ou um beijo. Ou num momento tedioso, quando o celular toca e a mensagem diz que alguém te ama. Quando você recebe uma carta, lê um livro bom, assiste a um filme que te agrada. Você sorri quando sai com os amigos, porque não há como ser de outra maneira; sorri quando faz amigos. Sorri até sem querer, pra sufocar alguma coisa que já não te faz bem. Assim o faz porque te disseram que um sorriso melhora tudo, tanto pra quem o dá quanto pra quem o recebe. Mas você sorri principalmente quando faz alguém sorrir, porque daí vem a certeza de que já não se está mais sozinho."
Acho super interessante esse texto, é de uma escritora mineira, Natália. E também é um dos meus favoritos... faz a gente sentir cada palavra e lembrar algo que já vivemos =}
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